Nevado El Cocuy Parte I – Chegando lá!

Parque Nacional El Cocuy

Um dos lugares que queríamos muito conhecer na Colombia era o Parque Nacional Natural El Cocuy, famoso por seus picos nevados, sua biodiversidade e sua beleza. O parque é uma formação montanhosa composta por cerca de 25 picos nevados que alcançam entre 4.800 e 5.330 metros acima do nível do mar, com cascatas e lagoas situadas em suas grandes altitudes. É a maior área glaciar da Colombia. Em sua vegetação predominam os Frailejones, planta muito famosa pela sua raridade, especialidades e importancia. Esta planta existe apenas no Peru, Colombia e Equador, exclusiva do ecossistema Páramo, ela possui propriedades medicinais e seus “troncos” são utilizados para construção de casas pelos locais. São de extrema importância para a manutenção do equilíbrio no ecossistema que fazem parte, evitando a erosão, absorvendo a umidade e protegendo a nascente de rios e lagoas glaciares. E elas são tão especiais também por crescerem apenas 1cm por ano!! Algumas chegam a ter 3 metros de altura atualmente, ou seja, tem muita Frailejones bem idosa que já resistiu há pelo menos 300 anos de história!! Uauu!!

Um pouco de história

Claro que eu não sabia de tudo isso. Só sabia que esse parque tinha vários picos nevados e um hiking incrível pela sua natureza que contornava as montanhas durante 5 dias consecutivos! Eu também sabia que era bem difícil o acesso, e por isso, um lugar ainda pouco turístico – apesar de conhecido pelos buscadores de hiking. O que só deixava tudo mais especial e interessante.
O parque tem uma história muito particular. Nas nossas pesquisas descobrimos que a área, por ser muito remota, de difícil acesso e próxima a fronteira com a Venezuela, foi muito utilizada pelas Farcs, sendo uma zona de conflitos e arriscada ao turismo por muitos anos. Os povos locais sofreram muito com essas guerrilhas. Inclusive em 2015, na cidade de Guicam, teve um ataque das Farcs matando muitos policiais. Em 2016 foi assinado o tratado de paz entre guerrilhas, governo, povos locais e indigenas . Ou seja, é tudo muuuito recente. Inclusive, segundo lemos em alguns sites, esse acordo de paz foi assinado a contra-gosto pelos povos locais que não queriam “paz” com as farcs, pois sentiam muita raiva de toda destruição causada por eles ao longo dos anos.

O parque ja foi fechado e reaberto mais de uma vez ao turismo, normalmente em função do cuidado e preocupação à sua preservação e a busca de respeito aos picos nevados. A última vez que foi fechado foi entre 2016-2017, segundo nos contaram durante nossa estada, em função de turismo (ultra) desrespeitoso: pisaram, ou melhor, jogaram futebol na neve, que é considerada sagrada pelos indígenas. O parque foi reaberto em abril/17, com diversas restrições ao acesso – inclusive não existe mais o hiking de 5 dias contornando os picos nevados, agora pode-se fazer apenas 3 rotas, todas com duração de um dia cada e um guia cadastrado é obrigatório. É uma burocracia e pequenas dificuldades que incomodam, mas que após saber dos conflitos e história, se justificam.
A região já esta muito mais tranquila, mas mesmo assim ouvimos histórias de mortes cruéis de índios por guerrilheiros acontecendo ainda hoje, nas regiões inacessíveis do parque. Triste. De qualquer forma, parece que o acordo de paz reabriu o turismo, o que é ótimo para o desenvolvimento das cidades, mas que também trouxe mais discussões de como manter um turismo respeitável – tanto para o ecossistema quanto para os indigenas.

El Cocuy sagrado

Muito da proteção e cuidado dado ao PNN El Cocuy deve-se aos índios que vivem nas montanhas. A tribo local são dos U´wa, e eles consideram as montanhas e a neve sagradas, tendo cada pico seu deus próprio. A luta deles pelo respeito às suas crenças e terras tem mantido o parque com leis e cuidados cada vez mais restritos. Toda a área tem uma importância muito especial para o população da região.
“…Integrando o território do povo U’wa e o das famílias camponesas que habitam os pátios circundantes (do PNN El Cocuy), os picos nevados da Sierra Nevada de El Cocuy fazem parte da identidade dos homens e mulheres dessas terras, talvez mantendo uma sensação de gratidão pela constante contribuição das águas feitas por suas geleiras a duas das mais importantes bacias hidrográficas do país: o Magdalena, a oeste e o Orinoco, no leste.”
-Fonte http://www.ideam.gov.co/web/ecosistemas/sierra-nevada-cocuy-guican

Além de todo esse passado conflituoso, de mortes, guerras, sagrado e profano, é realmente muuuito difícil chegar lá. De Bucaramanga, a maior cidade da região onde fizemos ‘compras’ e uma geral na Maria antes de encarar as montanhas (+4000m de altitude) até a cidade de El Cocuy são 234km que o Google-sabe-tudo dizia durar quase 9h e que nós levamos 10h. Sentiu? Muita estrada em construção, muita montanha, muita estrada de chão batido, muito penhasco, muita curva e tudo com a cereja extra de dividir as pistas simples – as vezes tão simples que só passava um carro – com os motoristas loucos da Colômbia. Loucos nível máximo, do tipo que aproveitam as curvas para ultrapassar! Sim, acreditem, não é exagero. Inclusive esta frase foi dita por uma amiga minha brasileira e confirmada por seu marido colombiano, atuais residentes de Medellín, quando falamos do nosso assombro sobre o nível de loucura dos caminhoneiros, motoristas de ônibus, carros de passeio, tuctucs, taxis, motos, bicicletas ou qualquer veículo sobre rodas!! Tudolocooo!!! (Panamá era ensaio!!)

Chegamos bem tarde na cidade de El Cocuy e decidimos passar a noite por ali e seguir no dia seguinte ao camping nas montanhas. Explico: Tem duas cidades que permitem comprar os ingressos de acesso ao parque e preencher as exigências para permissão do hiking, El Cocuy e Guican. Nossos amigos já haviam dito que dessas cidades até o camping onde estavam, perto do acesso ao parque e das monatanhas, leva em torno de 1h de carro para fazer os 20km. Mais uma vez, sentiu? Os escritórios ja estavam fechados, se subíssemos teríamos que voltar. Ficamos! Nem pensar ir, voltar e ir novamente nessas estradinhas só pra preencher papelada, né? Ah, se você não tem carro, a forma de chegar às montanhas é com o caminhão de leite, pois não tem transporte público. Não tenho detalhes desse itinerário para passar, acredito ser algo que se pergunta na cidade, espera chegar e vai. Se você quiser também pode pagar um taxi, ou então, como vimos posteriormente, combinar com o dono do local que irá se hospedar nas montanhas para buscá-lo.

 

A cidade de El Cocuy é bem bonitinha! Toda colonial, com um povo que é um mix de camponeses e indios. Todos super agasalhados, com ponchos e gorros de lã, para uma noite não tão fria… Eu estava de shorts e chinelos – quem me conhece sabe como sou friorenta – mas te digo que toda população de El Cocuy é bem mais que euzinha aqui!! Achamos um hotelzinho que tinha água quente e era o mais limpo de todos que visitamos – e tinha luz numa noite que a cidade estava metade sem energia – deixamos a Maria no estacionamento local, saímos para comer “comidas rápidas” numa tendinha que servia arepas colombianas com queijo, pastel e cachorro-quente, e dormimos aconchegados e quentinhos, tendo um ótimo descanso para enfrentar a dificuldade burocrática do acesso ao parque na manhã seguinte.

ps: O povo de el Cocuy não parece muito acostumado a extrangeiros. Nossa presença era bem observada por todos. Não sei se é um espírito de defesa que ficou, ou se apenas estranheza pelo incomum, mas que você sente sua própria presença ali, ahh você sente!

Fontes:
http://theconversation.com/colombias-long-hidden-wonders-open-up-after-years-of-violence-90351
http://www.parquesnacionales.gov.co/portal/es/ecoturismo/region-andina/parque-nacional-natural-el-cocuy-3/

Como Ir:

Nós fomos com nosso carro, mas pode-se chegar ao El Cocuy de ônibus que saem da cidade de Soatá.

Onde Ficar:

Na cidade de El Cocuy, ficamos no Hotel Casa Muñoz

Acampamos próximo à  entrada do Parque Nacional nas Cabañas Guaicany

fone: +57 310 566 7554

cab_guaicany@yahoo.es

Leia a segunda parte desse post! O Hiking no Parque Nacional El Cocuy. Clique aqui!

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