Depois das felizes visitas ao Cotopaxi e o Lago Quilotoa, estávamos 100% de acordo que tínhamos que visitar o Vulcão Chimborazo. No mínimo um camping incrível nas montanhas teríamos. Saímos de Quilotoa direto para lá, já pouco preocupados com algum possível estrago de chuva: os parques tem infra-estrutura suficiente, da pra relaxar e curtir! Passamos a tarde na estrada. Depois de sair da principal, começamos a rodar em estradinhas pequenas e estreitas, cruzando pequenos vilarejos cheios de vacas e galinhas. Cada vez mais nos afastávamos da civilização.
Em uma dessas cidadezinhas avistamos o topo do vulcão! Uau!! De tirar o fôlego ter aquela vista pela janela do carro. As vezes a gente pode pensar que após ter visto um vulcão não nos deslumbraremos tanto com um próximo, mas isto não é verdade! O Lu ficava dizendo que esse era ainda mais bonito que os outros. Não sei. Difícil classificar assim, cada um tem sua beleza própria. Assim como tantos lugares incríveis e lindos que visitamos nessa viagem, e ainda não achamos fácil eleger o melhor ou mais bonito. No caso dos vulcões, eles impressionam e se diferenciam por suas cores, pelo verde ou pela neve, pedras ou terra, formato e a imponência que exercem sobre o entorno. Conforme a proximidade que temos ou ângulo de visão, o efeito de magnitude é transformado – mas nunca perdido! Seja por tudo isso junto, ou apenas porque é mais um exemplar espetacular da grandiosidade dessa Terra, da sua força e poder, não cansa e sempre impressionam.
Depois de cruzarmos as cidades entramos na zona de fazendas e campos e logo depois numa estrada simples com uma paisagem desértica. Muito diferente da natureza que contornava os outros vulões. Ali, os campos eram de terra, areia e pedra, com seus animais selvagens soltos em bandos: as saltitantes vicunhas.
Acampando a 4400m altitude
Chegamos na entrada do Parque Nacional Chimborazo (mais uma vez) após o horário permitido para subir ao primeiro refúgio, onde tem hospedagem e restaurante, e também onde inicia a trilha para o segundo refúgio e depois a pequena ‘lagoa’ (mais parecia um resto de chuva forte que uma lagoa, mas né?). E (mais uma vez) nos foi permitido acampar junto a base do parque, grátis e com acesso aos banheiros. Na entrada tem loja, restaurante, banheiros, guarita, etc. Todo suporte necessário, que estariam abertos no dia seguinte, se precisássemos.
Não tinha nenhum outro carro ali, estacionamos e fomos montar a nossa barraca com toda amplitude daquele deserto para nós. Quando começamos a montar, o vento, que já era forte, começou a ficar violento. E o sol que estava se pondo compôs um dos pores-do-sol mais fantásticos que já vimos. Isso se resumiu em uma correria, porque ficamos curtindo o espetáculo, que logo foi apagado por uma nuvem negra que não sabíamos se era chuva ou areia, ou os dois. O vento ficou tão forte, mas tão forte, que pegamos uns pães e nos enfiamos na barraca com água e vinho e ali ficamos. Sem condições de tentar colocar a cabeça pra fora. O vinho tentamos beber, mas a altitude, descobrimos, não combina com álcool. Ao invés de relaxar, deu náuseas. Estávamos a 4450m de altitude, nosso recorde de acampamento. Tentamos relaxar e dormir, acho que não devia ser 8h da noite. Não rolou. A noite foi toda muito tensa. A nossa barraca dava sinais de que poderia não aguentar aquele vendaval. O barulho intenso do vento balançando a barraca, luz e sombra, mais barulhos externos atrapalhavam o sono que mal chegava. E ainda nossos specks soltaram e o Lú teve que sair naquele clima pra arrumar. Eu seguia não me sentindo bem com a altitude – e o vinho. Tudo isso fez a noite ser péssima! Mal dormimos. No meio da noite tentamos reorganizar a Maria pra ela bloquear um pouco do vento e da luz vindo da guarita dos guardas. Ajudou, mas não muito.
Amanhecer na base do Vulcão
Mas o amanhecer nos abençoou com sua costumeira calmaria. Saímos da barraquinha com um solzinho gostoso, uma vista linda do vulcão, um vento muito mais tranquilo e a paz daquela solitude e silêncio. Ali, totalmente expostos, qualquer vento acaba interferindo no nosso fogãozinho e preparo de qualquer comida, mas ao menos pela manhã foi possível esquentar uma água pro café e fazer um mingau de aveia antes de seguir ao hiking no vulcão.
Chegamos de carro ao primeiro refúgio e dali dava para avistar o segundo refúgio, onde chegaríamos a 5000m altitude. A trilha não era muito íngreme, parecia até “fácil” de chegar. Tinham algumas outras possibilidades de trilhas, mas não nos aventuramos. Fomos nas tradicionais, entre os refúgios e até a lagoa e já foram bem puxadas em função da altitude. O caminho é pouco íngreme, então achamos mais fácil que o Cotopaxi, apesar de chegarmos a mesma altura. A “lagoa” que é o limite para ir sem equipamento ou guia, chega a 5100m.
devidamente registrados no parque, vamos ao Chimborazo!
Perto do Sol
E lá fomos nós. Vencemos as duas etapas de trilhas, a cada passo nos aproximando mais e mais daquela suntuosidade de vulcão. Como saímos cedinho, mais uma vez demos sorte de não ter quase ninguém enquanto fazíamos a trilha. Um silêncio e uma alegria de estarmos com tudo aquilo só pra gente!! Na volta já cruzamos com diversas excursões.
Logo no início da trilha do Chimborazo tem um monumento ao primeiro escalador que chegou ao seu cume e diversas homenagens – em tumbas – aos alpinistas que tentaram vencer o vulcão mas faleceram na empreitada. Um pouco fúnebre, mas ao mesmo tempo muito emocionante e tocante de ver. A natureza é realmente impressionante e imprevisível. A mudança de clima em altitudes elevadas é muito rápida, nós, mesmo não indo muito “além” do aberto ao público presenciamos isso em diversas montanhas que visitamos. Aqui, quando estávamos na base da ‘lagoa’ a 5100m de altitude, sozinhos mirando o topo do vulcão, os barulhos de pedras caindo era constante. Imagina lá no alto, na neve? Imagina o Everest? É muita coragem. Admiro demais os bravos alpinistas e escaladores que enfrentam tantas montanhas nesse mundo. Falando em Everest, uma curiosidade sobre o Chimborazo: é o ponto da Terra mais próximo ao sol, e o ponto mais distante do centro da Terra. Mais que o famoso Everest, em função da sua localização na linha do Ecuador. E a gente passou por lá!
DICAS:
- A entrada ao parque é gratuita. Acampar também.
- Neste parque, talvez por ser mais afastado, não vimos taxis junto ao acesso/ serviços para levar turistas até o primeiro refúgio. Mas tinha alguns locais oferecendo serviço de guia. Da entrada até o refugio é aproximadamente 30min de carro.
- O hiking pode ser feito em 1h30 subindo, mais a descida que é mais rápida. Um passeio que também pode ser feito em um turno, sem precisar de pernoite. Tem alguns tours de aventura que levam até a base para o hiking, e o retorno da base à entrada você faz de bicicleta (deve ser demóis)!
- Tem outras opções de hikings, trilhas mais longas que aparentemente podem ser feitas sem equipamento (vimos placas sinalizando). E também se forem experientes, podem se aventurar a escalar.
2 Responses
de tirar o fôlego estas paisagens…encantadoras…
Obrigada!